segunda-feira, 28 de setembro de 2015

                                           QUASE PERFEITO
Há um vilarejo quase perfeito em minha imaginação.  Por sobre o rio que o banha  estende-se uma bela  ponte em arcos . É  uma velha ponte  com sólidas pedras  entre as quais  florescem , aqui e ali , florzinhas amarelas brotadas junto aos juncos  teimosos que espiam a vida pelas frestas da antiga construção. Ao longo da ponte , bancos de pedra se enfileiram .É dali que costumo , tomando meu chimarrão , encantar-me com tais desimportâncias.
Pessoas que por ali passam em direção ao centro não se encaixam na paisagem , seus olhares parecem  perdidos ao longe , distantes da beleza que os cerca.
Na rua à direita  uma velha  padaria  ainda produz os doces conventuais  com gosto de história antiga .Delícias que cabem perfeitamente no contexto do vilarejo  ,adicionando paladar  à belezaria  que inunda meu olhar. Comparo   o amarelo das pequenas flores da ponte com o ouro dos doces conventuais à base de gemas de ovos.
No fim do inverno  as arvorezitas que rodeiam a pequena praça  parecem  aqueles cabides de pé( - porta-chapéus -) pois que só  os troncos  estão vivos  , as folhas  adormeceram  no chão .E eu me  pego sonhando que em cada  extremidade estão  suspensos  coloridos chapéus de palhaços.

Foi nesse cenário que viveram  as irmãs Toscano.

 MARIENA e DAMIANA nasceram  com a diferença de  quase 2 anos , mas foram companheiras inseparáveis  durante a infância .Na escola , embora em turmas  diferentes ,participavam das mesmas brincadeiras e  quando havia aniversário de algum coleguinha , não importava de qual turma , as duas eram  convidadas .Gostavam das mesmas coisas  e os pais esforçavam-se para não estabeleceram comparações.
Foi na adolescência que começaram a enveredar por diferentes rumos .  Mariena adorava dançar , Damiana era  louca por livros. Nas tardes domingueiras  uma  ia ao cinema ver bons filmes  , a outra  ia às reuniões dançantes  tão em voga naqueles tempos.
Quando começaram a pensar em namorar aconteceu o que ninguém previra : as duas irmãs sonhavam  com o mesmo rapaz , ainda que  fosse isso segredo em seus coraçõezinhos e pensamentos.  Mariena  imaginava-se  valsando ; Damiana , no cinema  ,comendo pipoca de mãos dadas.    Assim construíram,  secretamente ,diferentes histórias de amor com um mesmo príncipe encantado.


         Tudo aconteceu repentinamente .  As irmãs cruzaram seus olhares apaixonados e souberam o que cada uma escondia. Apenas  encaram-se com ódio .No dia seguinte o livro preferido de DAMIANA apareceu boiando nas águas deste rio ,  e o vestido novo de MARIENA jogado sobre a cama  com um corte que ia do decote à cintura , quase arrancando a manga direita.
Deste então nunca mais se falaram , terminando seus dias solitariamente : uma com sua biblioteca  íntima de histórias vividas e a outra ouvindo as músicas que um dia dançara  e que pelo desgaste do tempo hoje  já não o fazia.

  
     
   *DE VOLTA AO CENÁRIO

 Estou  terminando o chimarrão quando o velho senhor se aproxima .Cumprimentos , licença para sentar-se .olhar significativo para a cuia que tenho nas mãos...  Ofereço-lhe o mate que ele aceita prontamente...
Inicia-se a conversa fraterna e ele  acaba desabafando  ...
Um dia fui jovem aqui nesta mesma cidade. Amei  e fui amado .entretanto não fui amado por quem amei .A mulher que escolhi para ser minha companheira abandonou-me por simples capricho . Desdenhei das mulheres que me amaram porque me julgava  superior a elas.Brinquei com seus sentimentos.
Hoje , na minha solidão ,sempre que  venho a este lugar imagino que passará por aqui aquela menina de vestido novo que me olhava de relance  nas festas  da turma ou que  um livro passará boiando por baixo desta  ponte onde estamos sentados. Nossa memória nos prega peças , trazendo lembranças significativas .apenas lembranças...




O velho senhor agradece e se retira.   Eu olho para  este lugar que julgo quase perfeito e quando volto a olhar para o velho que se afasta , uma surpresa: ele não vai sozinho ,duas jovens  o acompanham. Uma delas carrega um livro embaixo do braço e a outra vai saltitante em seu novo vestido...

terça-feira, 15 de setembro de 2015

ORAÇÃO DO DOADOR

Acho realmente maravilhosa essa oração que finaliza assim:

QUEIMEM O QUE RESTAR DE MIM E ESPALHEM MINHAS CINZAS AO VENTO, PARA QUE ELAS  AJUDEM AS FLORES A BROTAREM.   SE TIVEREM QUE ENTERRAR ALGO , QUE SEJAM MEUS ERROS, MINHAS FRAQUEZAS E TODO O MAL QUE FIZ AOS MEUS SEMELHANTES.”