domingo, 30 de dezembro de 2007

IDÉIAS À CURTA

Antes de me afastar por uns dias para mudar de ares ,resolvi postar alguns textos que denominei IDÉIAS À CURTA.

VIDAMAR
O que fez a onda
no seu vaivém?
Trouxe esperança
levou o meu bem.
E a linha da vida
quais lições teceu?
Que no meu destino
quem manda sou eu.

DO SONO DA MORTE
Minha amada adormeceu sorrindo
e desde então
uma eterna insônia de mim se apoderou...

DO MAL DE AMOR
Ouviu a clarinada da paixão
e marchou resoluto para a dor...

DAS RUGAS
Não passaram os anos por seu rosto
Ela envelheceu na alma
Que enrugou pela pouca fé
PETRIFICOU-SE.
DA BELEZA INTERIOR
Tinha defeitos tão arraigados
que para uma limpeza interna
precisaria de uma escova de aço...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

AMIGOS SECRETOS

Tenho um grupo de amigas que costuma reunir-se mensalmente em um shopping de Porto Alegre para matar saudade e jogar conversa fora.Desde que mudei-me para Lajeado , não podendo comparecer todos os meses, faço um esforço para comparecer pelo menos nos últimos encontros do ano quando a troca dos presentes de Amigo Secreto é ritual de alegria e abraços.
Neste ano aguardei ansiosamente pelo dia 19 , em cuja manhã rumaria à Capital.
Mas não foi o que aconteceu.
Enquanto minhas amigas tomavam seu sorvete ,riam e brincavam , participei de um Amigo Secreto diferente:recebi soro na emergência do Hospital da cidade .Tudo porque uma virose levou-me à uma aguda desidratação.Meus amigos da hora estavam vestidos de branco e carregavam seringas e agulhas.
Foi uma experiência nova , nem por isso menos enriquecedora .Confirmei a fragilidade do ser humano e a existência de amigos secretos que independem de sorteio ,acorrendo ao nosso chamado com carinho e dedicação sempre que acionados.
FELIZ NATAL A ELES!
E A TODOS VOCÊS...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

SONS E CHEIROS

Posso exercitar a audição desde o suave rumorejar da água que corre sob o passeio,indo para o rio, as diversas modulações do canto dos sabiás,o apito do barco que conduz turistas , até os sons ritmados dos caminhantes e algumas vezes suas tosses...
Chegando ao final do trajeto , a fábrica de vinagre com seu odor sui generis e o supermercado com o pão quentinho aguçam meu olfato.
Como se vê , minha caminhada de 50 minutos é um exercício completo para os 5 sentidos e daí para o sexto , com as preces que faço ao sol.
Graças a Deus!

domingo, 16 de dezembro de 2007

NUVENS DE ALGODÃO

Continuo minha caminhada...
Beirando o rio, as árvores de algodão.Bolas brancas parecem enfeites de neve e quando voam ao vento , caem formando um tapete de plumagem por onde os caminhantes pisam como se caminhassem entre nuvens.


O alongamento
Como se não bastasse a poesia do olhar ,sou brindada , sazonalmente ,com pitangas e amoras que enfeitam todo o passeio. Acompanho diariamente seu amadurecer e quando as encontro escurinhas , de um vermelho intenso, escolho suas frondes para realizar um divertido alongamento: nas pontas dos pés , esticando os braços, vou colhendo e saboreando as frutinhas.
Isso tem um gosto de infância!...

sábado, 15 de dezembro de 2007

A ÁRVORE DA MINHA ESQUINA

Há uma solitária árvore florida naquela esquina por onde passo em minhas caminhadas diárias.
Eu a chamo MINHA ÁRVORE COLORIDA , é linda!
Embora eu não more perto , aquela é a minha esquina e toda vez que por ela passo renovo meu encantamento.
Ela se veste de flores multicores e cheirosas .
Se eu pudesse reproduzir em tela seu espetáculo! Se eu pudesse cantar em versos sua imponência! Se eu pudesse perfumar-me com seu aroma! Ah! se se pudesse...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

50 MINUTOS

Minha caminhada diária é a melhor prevenção quanto aos males do corpo e do espírito.
Enquanto caminho de forma moderada (no meu ritmo) por 50 minutos ,exercito o físico e o espiritual , aliando de maneira prazerosa o movimento corporal e o movimento criativo das sensações e do olhar.
Retorno repleta de pensamentos e gozo estético.
MEU DEUS!QUANTA BELEZA EM TUA CRIAÇÃO!

De repente uma árvore floresceu...



(continua)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

PROPÓSITO

Ruas sem árvores
são ruas nuas.

Olhares indiferentes
são frutas sem sementes.

Rios quando rasos
da água são vasos.

Casas sem quintais
são sérias demais.

A beleza da ética
pode estar na poética.

A força angelical
pode estar no ritual.

A fé mesmo em surdina
pode ser divina.

MAS NÃO PODE UMA VIDA SEM PROPÓSITO
NÃO PODE O CORPO SER SIMPLES DEPÓSITO.

É PRECISO BUSCAR SABEDORIA,
DESCOBRINDO DO ESPÍRITO A MAGIA.

domingo, 9 de dezembro de 2007

ANIVERSÁRIO DO PEDRO

No dia 6 de dezembro PEDRINHO completou três anos de idade. E esta avó emocionou-se ao relembrar sua vinda....
Ele chegou quando menos se esperava.Mandou avisos de sua proximidade através de sinais físicos e emocionais , o que foi recebido por uma dicotomia alegria x apreensão , mas com muita esperança.
Era um tempo de correrias , obras, agitação e, consequentemente essas circunstâncias corroíam a harmoniosa espera que deveria prevalecer para um advento de tamanha importância: o despertar de uma nova vida.
Dezembro o trouxe como o melhor dos presentes ,embrulhado em sua roupinha multicolorida e única. Jamais se vira um recém-nascido tão "psicodelicamente"vestido! Coisas de Pedro! Ele já dava mostras de que não se deixaria passar desapercebido.
E está confirmando seu recado....

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

LÓGICA DE TORCEDOR

No dia em que a grande torcida do CORÍNTHIANS amarga a queda para a segunda divisão , ocorre-me pensar na lógica do torcedor.



PITAGORICAMENTE ELE VIVEU:
VIBROU NO FUTEBOL COM O " SOBRENATURAL DE ALMEIDA"
NA POLÍTICA ELEGEU O "SALVADOR DA PÁTRIA"
NA RELIGIÃO BURILOU O " ESPÍRITO DE PORCO"
FOI SEMPRE UM FAZ-TUDO
E NA QUADRATURA DO CÍRCULO
NAVEGOU PELA ONDA DA INTERNET
COMO SE A VIDA TIVESSE A MAGNITUDE
DE UM TEOREMA EXATO.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

ESCOLA E VIDA

Da sacada , do alto de um edifício da Lima e Silva , observo a algaravia do recreio da Escola Renascença. Ali estudam crianças diferentes , muito ternas.
Uma delas se destaca: calção azul de mar ,camiseta branca de paz, trancinhas de veludo...
Eu a vejo sentada no alto do escorregador , pronta para o deleite de um deslizar.
Há , porém, uma peculiaridade em sua brincadeira:ela não subiu pela escadinha como fizeram as outras crianças. Subiu com muito esforço pela rampa de escorregar .
A dificuldade da escalada deve tornar mais prazerosa a descida . Em sua fisionomia infantil vejo a alegria da vitória ,a beleza ingênua de uma descoberta ,uma fartura de risos.
E há ,na cena que ela vive,uma simbologia universal: o homem se realiza quando supera desafios.
Escalar a superfície de uma rampa deslizante equivale a transitar no mundo caótico dos nossos dias.
Quem consegue viver com dignidade sentirá ,certamente, a sensação deliciosa de escorregar para a verdade de si mesmo.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

CENA NOTURNA

Se o Velho Menestrel
na noite estrelada
cessar seu cantar


A lua tranqüila
virá espiar de perto
o sossego da vila

E surpreedendo a noiva
cismar nua ao léu
cobrir-lhe-á com véu

Para que permaneça
até o branco ritual
pura e virginal.

domingo, 25 de novembro de 2007

O AMOR RESTAURADO

O pessoal do Coral da Igreja Matriz descia a escada quando deparou-se com o corpo do ARTISTA(era assim que eles o chamavam) caído ao solo.

Realizados todos os procedimentos de emergência , a morte foi constatada.A população acorreu aos serviços fúnebres e muitos comentavam que o homem já andava apresentando um comportamento estranho.Talvez fosse o estresse , o fantasma dos últimos tempos.

Ele estava naquela cidade há alguns meses e pouco se sabia dos seus hábitos. .Nos últimos dias dera para deixar o trabalho e conversar sozinho no banco da igreja.

...........

No entanto sua vida solitária não havia sido sempre assim.Quando jovem tivera fama de grande desportista e ladrão de corações .Muitas moças haviam suspirado´por ele .Entre elas , Nicéia, uma linda menina tímida e de poucas palavras .Eles se conheceram no colégio.
Naquela época Josué era o garoto mais requisitado da escola , com medalhas de ouro conquistadas nas quadras da região.
Ela nutria por ele verdadeira adoração , mas o rapazinho tão envolvido estava em suas competições que pouco valorizava os olhares apaixonados que Nicéia emitia. Ele até sentia-se acariciado por aquele olhar , mas prosseguia em busca do sucesso sem deter-se nos sentimentos.

Deixaram de ver-se quando o Major Reinaldo , pai de Nicéia ,foi transferido para a Amazônia. Era o ano de 1965.

O destino de Josué , porém, deu em sua vida uma guinada de 360 graus.Dedicado à arte , seu nome aparecia entre os maiores conhecedores de escultura do mundo e "expert" em restauração de obras sacras.
No final do século , meados de 1998, teve seu concurso requisitado para a completa restauração de uma histórica igreja da Bahia. Já vivia no exterior há 11 anos, mas retornou ao país para a realização da obra.
Adrede preparados ,os andaimes e toda a estrutura de segurança aguardavam pela presença do renomado artista , que , tão logo chegou à cidade , iniciou a tarefa de renovação das esculturas desgastadas pelo tempo.O trabalho diário era sonorizado pelo ensaio do coral ,cuja música se evolava pelo ambiente.
À medida que trabalhava o homem deixava-se envolver pelos sons que pareciam celestiais.
Ao final da quarta semana Josué notou que uma mulher sentada no terceiro banco olhava fixamente para ele e sorria de forma encantadora.
Como que hipnotizado dirigiu-se à ela. E teve uma surpresa.
_ Não é possível!
_ Você é a Nicéia , a filha do Major?
_Sim , respondeu a mulher num tom de voz que soava musical.

Deve ser porque o coral está executando a Ave-Maria , pensou Josué.

Conversaram por 20 minutos , recordando a juventude e depois ela retirou-se , deixando um halo de encantamento que envolveu totalmente o lugar.Mas voltaria , foi a promessa que fez ao despedir-se.

A visita tornou-se diária e os colóquios cada vez mais entrecortados por pequenos gestos que falavam aos corações.
Foi assim que ela contou que estivera noiva por imposição do Major , mas não chegara ao altar.
Havia sido salva por intercessão da Virgem Maria , a quem recorrera para livrar-se do compromisso. Era uma fascinante história que ela contaria em outra ocasião.
Josué intrigava-se com as atitudes um tanto evasivas da amada e uma espécie de diáfana proteção que ela parecia suscitar.
À noite, sozinho em casa perguntava-se: será coisa do destino?Há algo estranho .Nicéia parece esconder um segredo. O certo é que me apaixonei...

Resolveu telefonar para um antigo colega de escola, cuja família sempre fora muito ligada á do Major Reinaldo.
Julião atendeu com exclamações de alegria e saudade.
Questionado sobre os antigos colegas , relatou que Nicéia havia falecido tragicamente alguns dias antes do casamento em dezembro de 1979.
_ Não pode ser ! ouviu de Josué.
_ É verdade . Compareci à missa de sétimo dia, representando minha família.
Falou mais alguma coisa que Josué não entendeu direito e despediu-se do amigo que parecia estupefato.

No dia seguinte a visita aconteceu religiosamente no horário.O artista , apreensivo
e desnorteado recebeu , então, as explicações da mulher amada.
Sim, ela contaria toda a verdade:
Na viagem de ida para a cidade onde se realizaria o matrimônio contra sua vontade , mas em obediência ao pai ,acontecera um acidente inexplicável. Enquanto populares socorriam seu noivo , preso entre as ferragens , ela se afastara do local conduzida numa linda carruagem branca.
_Nunca esqueceria aquele momento!

Boquiaberto , Josué não conseguiu proferir uma palavra E viu-a desvanecer-selentamente ao seu lado.
Aquele dia seria o penúltimo do trabalho em realização. Já estava tudo pronto , com exceção de mínimos retoques na imagem da Virgem.
Durante a noite quase não dormiu. Além do espanto , havia uma leve expectativa que o homem não sabia definir. Pela manhã já se decidira por deixar a cidade assim que entregasse `a comunidade a obra restaurada.E já sentia uma pontinha de saudade do que ali vivera.


Eram dez horas. O coral cantava a Ave-Maria mais uma vez. Os olhos da imagem haviam ficado perfeitos .Era hora de afastar-se para observar o resultado de sua arte.
Ao tomar alguma distância do altar ele viu a porta da igreja abrir-se e por ela surgir Nicéia.
Estava linda em seu vestido de noiva!E sorria ternamente.
Josué sentiu uma dor lancinante no peito e cambaleou , indo cair amparado pelos braços da noiva que lhe sussurrava:
_Vem comigo. Eu aguardava este momento desde o nosso reenconto.


Naquele instante o organista , no mezanino, iniciava a execução da SERENATA , de Schubert.

sábado, 24 de novembro de 2007

ESSE É O CAMINHO

Identifique pela emoção
o que o faz feliz,
o que o faz sofrer.

Convença-se de que só vale a pena
pensar com o coração
e com a mente sentir.

Na união do lúcido intelecto
com a compaixão do puro sentimento,
mire a conseqüência- o seu porvir.

A seguir elimine o que é tortuoso
e busque resoluto sua verdade.
Pois mente e coração ,se serenados,
são condutores à felicidade.

domingo, 18 de novembro de 2007

TODAS AS RESPOSTAS

"SABE AQUELA HISTÓRIA DE ...NO FUNDO , NO FUNDO EU SEMPRE SOUBE QUE ERA ASSIM? POIS É A MAIS PURA VERDADE"



No imenso mar dos porquês

voce nada até cansar.

Deixe a vida vir à tona

e irá se espantar

porque todas as respostas

estão num mesmo lugar.





Um lugar que é muito seu

e você finge não ver;

palavras que você ouve,

mas não quer admitir.

Verdades tão interiores

que você julga esconder,

Mas que brotam simplesmente

no seu jeito de viver.

PISANDO EM FLORES

Quem passasse pela calçada na ruazinha arborizada ,naquela manhã de domingo, obrigava-se a pisar no tapete de flores que o vento havia desenhado no chão.


A sensação que senti ali foi indescritível. "Pisar Em Flores" , decididamente é uma experiência que mexe com a gente.Passei a estabelecer analogias com "Pisar Em Ovos" . Quantas pessoas andam pela vida pisando em flores e outras , em ovos!


Acredito ser mais fácil para quem viveu esta última hipótese valorizar as situações simples , mas significativas : por outro lado , são raras as pessoas que desenvolvem uma capacidade de apreciar o belo da singeleza , tendo vivido em redomas de conforto e proteção.


Uma desssas pessoas que conheci chamava-se Rosine.



.................



Menina de classe média alta , era educada "pisando em flores" , mas dentro dos melhores princípios , capazes de desenvolver na criança saudáveis valores de solidariedade , responsabilidade , valor ao trabalho e amor ao próximo.

Morava numa linda casa de esquina gradeada de brancos arabescos e ajardinada com esmero. Era no balanço do jardim que ela brincava todas as manhãs , e dali observava a rua.Rosine era feliz e muito amada.



Aos quatro anos de idade , em um desses momentos de brincadeira , teve sua atenção despertada por um mulatinho que vendia jornais na esquina de sua casa e cujo refrão ela repetiu gritando :" Jornal do dia , informação e alegria..."



Após alguns dias de mútua observação o menino chegou-se às grades e Rosine sorriu-lhe largamente.Iniciava-se aí uma amizade que floresceu por dois anos.

Todas as manhãs ele fazia uma parada de meia hora junto às grades e recebia a fruta que Rosine lhe oferecia. Passaram , então,a fazerem juntos o lanche das dez:uma fruta sempre variada ,acompanhada de deliciosa conversa e brincadeiras de "o que é ? o que é?

Nesses dois anos de convivência o menino deixou-se conhecer apenas pelo apelido NICO. Tinha vergonha de dizer seu verdadeiro nome.



Foi um período mágico que terminou quando aquela família mudou-se para o Canadá.



Nico continuou ali mesmo , vendendo seus jornais e estudando. Era exímio na escrita e em suas redações criativas havia sempre uma personagem especial chamada Rosine.



Os anos se passaram e aquela amizade recolheu-se às lembranças.

...................



A Doutora Rosine , no hospital que dirigia , mantinha-se uma pessoa de hábitos simples e humanitários , tendo como referências básicas o sentido do dever e a espiritualidade.



Numa véspera de Natal , de férias em Nova Iorque , a Doutora que entre outras coisas estava sempre atenta às coincidências , teve seu olhar atraído por uma vitrina de livraria onde se anunciava o sucesso do momento e a presença ali de famoso escritor e jornalista . Ao ver a capa do livro , um mosaico artisticamente pintado que apresentava recortes de manchetes de jornais , flores e frutas ,Rosine sentiu-se "chamada" e entrou na livraria.

Comprou um exemplar e olhando a foto do autor teve a estranha sensação de conhecê-lo.NICODEMUS DO NASCIMENTO era um nome que não lhe trazia nada à memória , mas falava-lhe ao coração.

Passou à sala de autógrafos e deparou-se com um elegante homem de olhar cativante e uma bem cuidada pele da cor de amendoim torrado. Impelida por mãos invisíveis acercou-se do escritor que ao vê-la iluminou-se e sorria enquanto lavrava a dedicatória com serena caligrafia:



"À menina das frutas que esperei reencontrar todos estes anos". NICO

......................



Foi a continuidade de uma história começada na infância e ainda hoje sendo escrita por duas pessoas excepcionais que , embora tendo trilhado caminhos diferentes (uma pisando em flores , outra, em ovos)chegaram a um lugar comum onde o espírito iluminado pelo amor sempre vence.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

PAGANDO-SE

Assistindo a um programa de televisão ,espantei-me com a grandiloqüência de uma simples afirmação usada pela consultora financeira entrevistada.
_ EM PRIMEIRO LUGAR PAGUE A SI MESMA , dizia ela , referindo-se aos compromissos mensais que assumimos.
Que grande sacada!É isso mesmo. Precisamos pensar em nós , e com prioridade ;não deixando para o final a parte que nos toca. Afinal se não nos valorizamos , quem o fará?

Não quero dizer com isso que os outros devam ser esquecidos , mas que obedecendo a essa escala ,estaremos nos fortalecendo para atuarmos com maior segurança e eficácia em todas as ocasiões .E quem ganha com essa atitude são todos que conosco convivem , porque nossa poupança de auto-estima alicerçará qualquer "tranco" mais forte que precisemos enfrentar ,ainda que em benefício de outros.
E tem mais:quando investimos em nós com disciplina e método enriquecemos , sobretudo, o espírito.
E ESSE GANHO É PARA SEMPRE.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

CRISTAIS

Sabe aquela comparação :COMO ELEFANTE EM LOJA DE CRISTAIS? Pois é isso mesmo.Em alguns relacionamentos nos colocamos diante do outro como se estivéssemos frente a uma prateleira de cristais, tal a sensação de cuidado extremo que nos domina.
Nossos interlocutores ,às vezes , parecem estar prestes a estilhaçarem-se se tocarmos naquele assunto ,fizermos aquela pergunta , lembrarmos aquela vez... É um sufoco!
Então descobrimos o quanto aquele cristal é precioso para nós ; afinal é raro como só as grandes amizades sabem ser.
Se é assim , deixa pra lá! Contorne-se a prateleira , jogue-se a bolsa no chão para evitar qualquer esbarrão,faça-se o possível e o impossível , mas deixe-se o cristalzinho incólume pois talvez ele contenha aquele espumante que dará um sabor diferente a nossa vida.
É preciso polir uma amizade como se faz com aquele valioso jogo de cristal que herdamos dos nossos avós.

domingo, 11 de novembro de 2007

METAMORFOSE

A toda perda há de seguir-se um ganho,
a cada noite há de seguir-se o dia,
mas você só verá essa verdade
se tiver fé, ternura e ousadia.

Não se deixe abater, não é o fim,
É apenas o meio do caminho.
Se pássaros escuros nos rodeiam
Não lhes sirvamos de adequado ninho.

Faça que voem as deseperanças
Para que conservar certos frangalhos?
Só resvala quem está caminhando.

Se a roupa transformou-se em retalhos
Faça deles bela tapeçaria.
Nunca diga : É o fim ;diga: Está mudando.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

EU QUERIA ENTENDER

EU QUERIA ENTENDER TUA CANÇÃO

MAS ME FALTA O BOM SENSO E A RAZÃO

QUE ESCLAREÇAM TEU JEITO DE DIZER

QUE ME MOSTREM TEU JEITO DE QUERER

QUE ACALMEM ESTA SOFREGUIDÃO

DE TE AMAR, DE TE OLHAR, DE TE SOFRER




EU QUERIA ENTENDER TUA CANÇÃO

DEFLORAR AS PALAVRAS

RASGAR TEU VENTRE

E ENCONTRAR O EMBRIÃO

DA TUA DOR.




EU QUERIA ENTENDER TUA CANÇÃO

RITMAR O TEU SOM

E ENCONTRAR NA HARMONIA

A SONORIDADE

DO TEU AMOR.



EU QUERIA ENTENDER TUA CANÇÃO......

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A REDE DA VIDA

A pequena propriedade rural da viúva Antônia já fora um dia próspera produtora de alimentos disputados pelos feirantes e comércio afim. Hoje servia apenas ao sustento das necessidades da casa onde ela morava com o casal de filhos ,os quais só apareciam no fim de semana ,quando deixavam a cidadezinha onde estudavam , vivendo com uma tia que gentilmente os acolhera.


Naquelas férias a jovem Mariana iria com a turma de concluintes do secundário realizar sua primeira viagem depois de muitos anos . A turma juntara dinheiro para passarem 10 dias numa pequena praia.A jovem levava uma quantia extra , presente da madrinha Dinorá , e parecia tomada de encantada expectativa.


Enquanto Mariana arrumava sua raquítica bagagem ,Antônia bombeava tudo com o pensamento distante.


Voltava uma década atrás.


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Quando a família decidiu que iria passar janeiro na praia nem imaginava a mudança que ocorreria em suas vidas nessa curta temporada.




Os pais que trabalhavam arduamente na lavoura ,plantando e colhendo sempre de olho no céu,vencendo estiagens e enxurradas, agora pretendiam aproveitar o merecido descanso à beira-mar.As crianças já se viam no meio da concharia e na areia. Imaginavam-se em gostosas brincadeiras na casa alugada com antecipação ,atendendo a dois requisitos básicos: uma rede em local aprazível e um pátio com grama verdinha onde pudessem brincar descalços.

O trajeto de ida foi realizado em estado de alerta pelos pequenos que ansiavam pela chegada. Isso só aconteceu à tardinha e foi um suplício infantil a espera pela manhã seguinte ,quando o mar se descortinaria à sua frente imenso e belo.

Iniciou-se assim um período de sol, vida, algazarra, descanso e comilança variada com muito peixe no almoço das 14 horas e sorvete ao fim do dia , entremeados com milho verde e "violinhas" fritas saboreadas sob o guarda- sol.

A família mudou seus hábitos e estreitou afetos.

O pai elegeu a rede como seu ponto de apoio. Dali observava a todos e repetia feliz:

-Esta é a vida que pedi a Deus!

Quando não estava no mar ,estava na rede.

E o tempo escorregava manso...

No décimo-sexto dia ao final da tarde a família decidiu dividir-se:papai iria caminhar na areia e as crianças iriam com mamãe ao "centrinho" onde tomariam sorvete e visitariam os camelôs. José ganhou um caminhão vermelho e Marianinha quis um quadro com conchinhas imitando o fundo do mar (trabalho de um artista local).

Voltaram à casa no início da noite , cheios de novidades para o papai. Ele ainda não havia chegado.

Às 21 horas continuavam aguardando . A imaginação viajava desde o ciúme da esposa até a expectativa dos filhos pela surpresa que o pai traria. Por volta da meia-noite a angústia já se instalara na pequena casa . Vizinhos acudiram , a polícia foi acionada e buscas se iniciaram.

Nenhuma notícia chegava.Era deseperador. Mil idéias passaram pela cabeça de Antônia e o silêncio foi estrangulando qualquer pensamento otimista.

No quarto dia o mar devolveu à praia um cordão de couro com uma semente em forma de meia-lua. Era aquele que o pai usava desde quando ganhara dos filhos no último natal.

E foi só. Nunca apareceu o corpo...

Naqueles dias ,porém, começou a repetir-se uma estranha cena : Marianinha, então com pouco mais de três anos, olhava para a rede , sorria e apontava dizendo:

_Olha o papai!

Outras vezes convidava:

_Vem brincar , papai!

O tecido quadriculado balançava e a menina persistia na conversa imaginária.

No dia do retorno para casa , os vizinhos, que haviam sido solidários o tempo todo,ainda ajudavam nos preparativos finais , quando viram estupefatos o balanço da rede e a menina chamando:

_Vamos , papai! Sem você eu não vou.

Num ímpeto o dono da casa desprendeu a rede e entregou-a à menina que se acomodou sorridente no banco traseiro do velho carro.

.....................

A propriedade rural perdeu muito do seu antigo conforto , mas uma rede escurecida pelos anos permanece vazia no alpendre . E a viúva , às vezes ,se pergunta:

_Por que esta rede continua aqui?

Ela não tem uma resposta.

E aquele pintor , um artesão simpes da praia,nunca teve certeza se realmente viu ou se sonhou aquela cena. O certo é que retratou num pequeno quadro.

VÊNUS SORRIDENTE SAINDO DAS ONDAS,TRAZENDO NAS MÃOS UM CORDÃO DE COURO COM UMA SEMENTE EM FORMA DE MEIA-LUA.

Até hoje não conseguiu vender esse trabalho, mas pressente que um dia uma jovem turista se encantará com ele.

LEMBRANÇAS

EU ESTAVA TÃO SÓ!
PENSANDO NA VIDA...
LEMBREI DE VOCÊ.

VOCÊ ERA TÃO LINDA,
JOVIAL E TRIGUEIRA
MENINA ESTUDANTE
ESBELTA E FACEIRA.

ÁVIDA DE SONHOS
NA SUA CARÊNCIA
TINHA A FORMOSURA
QUE VEM DA INOCÊNCIA.

SEU TEMPO PASSOU
E VOCÊ, MENINA
ONDE ESTÁ AGORA?

TENTO REENCONTRÁ-LA,
BUSCO-A NO ESPELHO.
VOCÊ FOI EMBORA.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

ROSAS

Da cadeira de balanço que ficava no patamar da entrada da casa via-se a chuva criadeira lavando o jardim. As plantas pareciam alertas.Bromélias,palmeiras,jasmins ,marias-sem-vergonha ,todas sorriam um verde vivo. Só a velha senhora não se sentia fortalecida pela magia que caía do céu em gotas. De repente as folhas de uma bromélia pareciam de ouro!O que seria?Parecia fogo. Outras folhas iniciaram aquele processo de luminosidade e isso aguçou os sentidos da mulher que tomada de vibração levantou-se devagarinho com medo de quebrar o encanto daquele momento e daquelas plantas vaga-lumes. Que espetáculo! folhas verdes em brasa!Lindo!


E tudo porque a lâmpada do poste começava a realizar sua rotineira tarefa de substituir a luz fugidia do sol que teimava em acompanhar o chuvisco.


_Será que isso acontecia sempre que chovia à tardinha?E porque razão ela não notara das outras vezes? Era preciso estar mais atenta aos mágicos espetáculos da natureza. O que a havia distanciado das belezas da vida?Em que instante perdera a capacidade de sonhar?


Quando menina encantava-se com as flores e os animais.


Houve uma época em que ela e a Gringuinha adoravam brincar de esconde-esconde no pomar e

depois sentarem no jardim para escolher as flores que enfeitariam os vasos da sala. Gringuinha era assim chamada por causa de seu cabelo loiro e as rosas eram as suas prediletas.



As famílias eram vizinhas e as meninas gozaram de um saudável companheirismo pontilhado de afetos e sorrisos até aquele dia. O dia em que tudo mudou.


Todos pareciam calados e tristes e sussurrando pelos cantos.


-Que aconteceu?


_Nada , menina.


_Vá vestir-se para visitar sua avó!


-Depressa , Juliana!





Ficou dois dias na casa da avó e retornou desejosa de rever Gringuinha . Mas ela estava viajando , foi o que lhe disseram.Que pena!


Quando entrava na cozinha certa tarde ouviu mamãe falando com a empregada:

_Ela não resistiu , morreu esta madrugada. Pobre criança!

As duas mulheres limparam furtivamente as lágrimas e mudaram de assunto ao vê-la.


De quem elas falavam? Ia perguntar,mas foi atraída pela buzina do carro de tia Zulma e ela trazia a prima Angélica. Ficaram uma semana de visita.

Após a partida das hóspedes, na hora da sesta de papai ,Juliana costumava sentar-se no jardim e naquele dia viu com alegria que Gringuinha voltara. Correu para a amiga e esta escondeu-se atrás do jasmineiro.Depois fugiu dando risadas.E assim ,por vários dias,brincaram de esconde-esconde enquanto os adultos dormiam.Mas a amiguinha estava diferente:corria,pulava,sorria e muito pouco falava. Juliana insistia:

_Vem ver a mamãe!

E Gringuinha não ia. Até o dia que , cansada da insistência da amiga , explicou:

-Não posso falar com tua mãe. Estou morta.

Juliana não gostou da brincadeira e retrucou:

_Assim não vale ,não brinco mais! E entrou em casa furiosa.

No dia seguinte Gringuinha só abanou para ela e desapareceu atrás da roseira.



À noite, quando foi deitar-se,Juliana viu uma linda rosa em cima da cama.Pegou o vasinho da sala e enfiou nele,colocando-o sobre o criado-mudo. Desse dia em diante, toda vez que Gringuinha se escondia atrás da roseira,uma rosa aparecia em seu quarto.

Naquele ano ela começou a freqüentar a escola e deixou de ir ao jardim no horário de sesta.Novas coleguinhas entraram em sua vida e ela esqueceu-se de Gringuinha.Esqueceu-se ,mas de vez em quando ainda recebia uma rosa.

Isso durou até quando? Juliana não sabia mais...



E agora tudo lhe voltava à lembrança. Levantou-se da cadeira de balanço e foi procurar aquele vasinho de sua infância que guardara na estante do sótão. Limpou-o e recolocou na mesinha de cabeceira.

Quem sabe , Gringuinha depositaria ali uma rosa?....

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A PRAÇA DOS LIVROS

Na Praça da Alfândega ,local onde se realiza a Feira do Livro , há dois poetas à beira de um caminho.

Que farão à sombra dos jacarandás floridos?

Certamente estarão poetizando.

Na prosa fraterna hão de falar docemente sobre a férrea tenacidade do itabirano ,as ruas de Porto Alegre onde jamais passarão,a Rua dos Cataventos ,os sapatos floridos....

Questionar-se-ão sobre este vasto mundo ,a natureza dos anjos sejam tortos ou Malaquias ,tentarão decifrar com os olhos da alma o claro enigma da vida...

Ali permanecerão "encantados" esses dois personagens ,alheios às bugigangas dos camelôs que quase nos impedem de transitar livremente no belo ambiente onde os Poetas foram eternizados pelas mãos amorosas de um grande artista e o reconhecimento de um povo de sulino cantar.





Mas...nestes dias nem eles estão livres do desamor que mina corações e mentes; desamor capaz de arrancar de suas mãos o tesouro precioso do livro que tanto amaram .



Quem rouba livro entende estas palavras? .

domingo, 4 de novembro de 2007

A LIÇÃO DO "OUTDOOR"

Nesta manhã,durante minha habitual caminhada, tive a atenção voltada para o grande anúncio de uma loja de móveis estilizados que mostrava um garotinho na ponta dos pés ,abrindo e remexendo uma gaveta. Imediatamente lembrei-me dos netos Júlia e Pedro que estão nessa fase.

Mas fui além....Refleti:por que as crianças, descobrindo o mundo, adoram abrir e mexer gavetas? E nós, adultos,preferimos organizá-las e trancá-las (por longo tempo às vezes)?

Falta-nos curiosidade ou sobra medo?

Se a curiosidade criativa continuase a manifestar-se por toda a vida, investigaríamos muito mais sobre nós mesmos.Aliás, é a curiosidade que impulsiona a Ciência às grandes descobertas.

O ser humano , seguindo essa lógica, saberia conter seu medo e abrir as gavetas onde se redescobriria , avançando na própria evolução pelo autoconhecimento.

E nem precisa ser um dia de chuva ou frio para realizarmos essa tarefa de organizar nossos "entulhos", basta o desejo de melhor conhecer-se.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Quatro de novembro

Minha neta Júlia está completando 4 anos de idade.




Aquela não era uma simples sacada.Era um camarote para a visão de uma obra de arte criada pelo Grande Artista.
Por toda a extensão descortinava-se a paisagem de vales e montes. Mirando-se à esquerda via-se o rio que descia entre o verde, rumorejando em suas águas suaves carícias
À direita ,o ferro dos trilhos cortava e descia a encosta .Por ali , o trem corria velozmente quatro vezes ao dia,apitando com a força de um gigante de aço.
Era um espetáculo de sons e luzes o que se observava daquela sacada. Ali Júlia viu , pela primeira vez, o nascer do sol.Era uma privilegiada!Aquela bola de fogo surgia detrás da colina(Colinas é o nome da cidade),inundando o vale e o rio de sombras e luzes.
E a magia da vida era Júlia.O amor era Júlia .O futuro era Júlia.

VÃO-SE OS ANÉIS...

A casa grande aguardava o sinal de que o parto tivera êxito.Naquela família as crianças nasciam sob o olhar atento da parteira, uma negra velha que se dizia ter o poder de tirar a dor com as mãos.

Na sala de visitas, a matriarca esperava o chamado para conhecer mais um GOUVEIA DA SILVEIRA.Era costume mostrar-se o recém -nascido a pessoas capazes de transmitir no primeiro olhar a proteção e os augúrios que o conduziriam pela vida.O Dom do Primeiro Olhar era a certeza de bons fluidos.

Quando foram ouvidos os vagidos do nenê ,Dona Lenora levantou-se,postou o tricô sobre a mesinha e dirigiu-se ao quarto.

_É uma menina!E parece com a avó!Sorriu a preta velha.

_É uma Gouveia .E será uma exímia pianista como Tia Lilá, acrescentou a avó.

_Encantará o mundo com as mãos ,através da música.

Dirigiu seu bondoso olhar à menina e beijou a filha.



Estava lançada a sorte da pequena Isabelle.



Dona Lenora prometeu ,então, que seus preciosos anéis , verdadeiras filigranas de ouro e diamantes, adornariam ,um dia, os dedos daquela neta predestinada ao virtuosismo.


Aos oito anos começou a estudar piano com a melhor professora da cidade. Preferia olhar para o busto de Mozart que enfeitava a mesinha lateral, mas dedilhava obedientemente as teclas do imponente instrumento . Assim completou seis anos de estudos entre bemóis e sustenidos.
Às vezes descobria-se olhando as mãos e imaginando os anéis da avó a brilharem nos dedos bem torneados.


Na adolescência rebelou-se e deixou de comparecer às aulas,alegando dores nas mãos.Dizia ainda que não mais suportava repetir sem alma as mesmas melodias.


Os pais compreenderam , a avó, não.


Iniciou-se assim uma sucessão de desentendimentos entre as duas que culminaram quando a jovem optou por fazer vestibular para Artes Plásticas. Nessa época as duas famílias moravam em bairros distantes e as visitas eram esporádicas. Por ocasião das festas de fim de ano aconteceu que ao chegar em casa da filha,Dona Lenora surpreendeu Isabelle modelando peças de cerâmica.Ficou horrorizada com o que chamou de sujeira e tralhas e garantiu ao sair:


_ Essas mãos imundas não merecem meus anéis! Vou doá-los a uma obra social que se dedique a ensinar música a crianças .A música é que é arte de verdade!


E assim fez. Mas teve o cuidado de procurar a Instituição reconhecidamente idônea onde, por acaso, se abrigava uma netinha da velha parteira da estância.
Ao reconhecer a menina , mudou de idéia e resolveu entregar à ela as jóias. Na presença da Diretora da Casa ,recomendou que o pequeno tesouro só fosse usado em momento de grande necessidade ou de extrema alegria.


A notícia desse gesto espalhou-se na família, gerando os mais diversos comentários. Ninguém imaginou que aquilo já era o primeiro sinal da demência que por longos anos instalou-se na velha Senhora e exigiu dispendiosos cuidados dos parentes.



Quando da sua morte não teve o acompanhamentoa da neta que se achava em Paris , onde se exilara após a Revolução Redentora, pois seus ideais eram considerados subversivos.
Isabelle morava nos arredores da Cidade Luz .Na Europa continuou se aperfeiçoando nas Artes e chegou mesmo a ocupar uma cátedra em conceituada universidade.

Os salões de arte disputavam suas esculturas e ela criava raras peças de grande valor artístico.Tinham todas um emblemático detalhe:as figuras humanas , de formas perfeitas apresentavam mãos que se mostravam lindas ,mas terminavam em disformes "borrões" que em nada se pareciam a dedos.



Reconhecida internacionalmente, foi trazida à cidade natal onde o Prefeito, em nome dos conterrâneos entregou-lhe uma medalha e cantou loas à sua nobre arte.



Terminada a cerimônia ,Isabelle teve sua atenção despertada por um mulatinho com um embrulho pequeno e colorido.


_É para a Senhora. Foi minha mãe que mandou.


Entregou o presentinho e saiu correndo.


A artista abriu o pacotinho .Ele continha dois anéis e um bilhetinho.




"TENS UM DOM ESPECIAL :mãos que transformam material bruto em beleza.

Estes anéis são teus.Guardei-os como fiel depositária por mais de trinta anos.

Ass. Pretinha (a neta da parteira que atendeu tua mãe).

Dia de Finados

Minha saudade não tem lembranças.
Não tem voz,
Não tem sorriso,
Não tem gestos
Nem afagos.

Mnha saudade é um pequeno retrato de homem bonito com uma caneta no bolso do casaco.
É uma ENIGMÁTICA SAUDADE.

दिया

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

SIMULACRO

_Homem bom é o Senhor Prefeito!

_ Muito honesto!

_Devemos tanto a ele!

_ Que Deus ilumine sua gente!

Esse diálogo era constante na casa de Seu Quirino,especialmente `a tardezita quando proseavam, tomando chimarrão sentados à porta.

Ele e Siá Ignácia tinham verdadeira adoração pelo Dr. Juca.Na verdade , o homem dava grande atenção àquela família simples.O pai, velho Quirino,fora desde sempre peão dos Fagundes e com a idade passou a ser também caseiro.

Ninguém assava um churrasco de ovelha como ele!

E como a estância dos Fagundes era lindeira com a do Dr. Juca,este fazia questão de ter Seu Quirino comandando os churrascos de domingo. Dona Ignácia o acompanhava. Tinha prazer em preparar as saladas e tratava o Sr. Prefeito com toda a mesura possível,inclusive chamando-o pelo sobrenome .Era Dr. Pontes prá cá, Dr. Pontes prá lá... O mesmo exigia do Ironito , único filho do casal:

_Guri,muito respeito com o Dr. ,é gente boa e importante!

E o gurizinho obedecia.

Até mesmo quando estava presente o menino do Dr. Pontes e eles saíam para correr pelo campo, Ironito colocava-se em posição de inferioridade . Isso era consideração, como ensinaram os pais.

Já o Pontinho(como chamavam o filho do prefeito)que adorava ser obedecido, não perdia um domingo de brincadeiras com o filho dos camponeses.

Quando Pontinho entrou na escola,começaram a rarear as visitas ao campo, tornando-se então uma exceção.

A vida do caseiro seguia sua rotina...

Ironito era estudioso e conseguiu facilmente concluir os três primeiros anos escolares.Os pais orgulhavam-se dele.

A professora unidocente, que lecionava as turmas de primeira à quarta séries, também apreciava o menino. E por isso mesmo viu-se obrigada a fazer uma visita desagradável ao Seu Quirino e Dona Ignácia nos primeiros dias do novo ano letivo.Precisava alertá-los: repetira-se um fato que no ano anterior ela tentara resolver apenas com uma boa conversa com Ironito.Da primeira vez ela ficara em dúvida sobre o culpado, mas agora não dava para levar na conversa. O guri fora flagrado ,de novo,fazendo sem-vergonhice no banheiro com outro menino.
_ Era isso.Desculpem, disse a professora, retirando-se.
Seu Quirino não movia um músculo da face.Quando moveu-se foi para saltar em cima de Ironito. E D. Ignácia chorava.
_Tu vai ver só o que acontece com gente da tua laia!
A surra deixou o menino quase à morte.O pai só parou quando a criança desmaiou.A mãe sofria , mas não se animava a contrariar o marido.
Quando coseguiu ficar em pé e abrir os olhos inchados pelos socos que recebera, o guri foi expulso de casa sem dó nem piedade.

_ Lugar de sem-vergonha é na rua!
_Não tenho mais filho! Que tristeza,Senhor!
_O que os outros vão pensar?
-Fora! Fora!

Passaram-se dias terríveis , mas a vida seguiu seu curso...

As prosas do casal tornaram-se mínimas.Era um dolorido laconismo e um nome foi para sempre ignorado.
Os conhecidos evitavam falar do assunto.E o Dr. Pontes ,que continuava cada vez mais amável com o casal,só comentava o caso com o amigo Fagundes, lamentando a desgraça de pessoas tão sinceras e trabalhadoras.
D. Ignácia, depois de muito tempo ,teve notícias de Ironito.Ele morava numa cidade vizinha,continuava estudando e trabalhava em um salão de beleza.
Ah! como ela queria que o seu menino tivesse dado a metade das alegrias que
o Dr. Pontinho, como era agora chamado o futuro prefeito,deu à família Pontes.
Aquele sim era um filho exemplar!
Votaram nele com muito orgulho por serem amigos do Doutor.
Sentiram muito não poderem ir ao churrasco da vitória,pois naqueles dias Seu Quirino já andava acobardado por uma dor no peito, mas mandaram uma salada linda como ela só.
A doença fez o pobre homem afastar-se das lides do campo.Longo tempo na cama permitiu que ,de mansinho, D. Ignácia passasse a tocar no assunto proíbido.
Afinal ,ela nunca se perdoara por não ter insistido numa reconciliação.E depois, alegava que o pequeno certamente fora abusado por algum dos tantos peões da estância ;quem sabe até por um daqueles desconhecidos que de vez em quando pediam pouso.Ela nunca simpatizara com o mascate Sabiá e algo lhe dizia que era ele o culpado que colocara Ironito no caminho do pecado.Em certa manhã tivera a impressão de vê-lo dando um caramelo ao piazito.
Quando falava dessas idéias ao marido já exausto pela doença, ouvia:
_Pode ser, mas agora é tarde.E se ele não quisesse , não ia atrás da sem-vergonhice.

Dessa forma , tudo permaneceu assim até a morte do velho Quirino.
A viúva sofreu a nova dor com muita coragem, no que foi amparada pelos patrões e pela família do Doutor Juca ,já então pai do prefeito.
Se não tivesse essa gente maravilhosa , o que seria dela,pensava a mulher.

Na ocasião Ironito,vencendo todos os temores, decidiu visitar o que restava da família. A mãe chorava de tristeza e alegria , abraçada ao filho.

Após a missa de sétimo dia,rezada na cidade , com a presença de poucos conhecidos,entre os quais o Dr. Pontes e seu filho, que cumprimentaram Ironito
amavelmente, mas com reservas, mãe e filho voltaram ao campo.
Naquela noite, véspera da partida do rapaz, a velha mãe não se conteve:
_Meu filho,sei que és boa pessoa e que foste conduzido ao caminho da desgraça por algum mau-caráter.Diz quem foi..
O rapaz relutou ,mantendo-se em silêncio.
_É só o que te peço,meu filho. O nome dessa peste . Eu já te perdoei, mas Deus há de fazer justiça com o canalha que te usou quando criança.
_Por favor, meu filho, o nome dele!
De olhar cabisbaixo Ironito falou num sussurro:
_Foi o PONTINHO.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

INCOMPATIBILIDADE

Ela chegara do Nordeste bronzeadíssima e pronta para curtir o carnaval.Além disso, nunca estivera no Rio de Janeiro e ,tendo alugado um pequeno apartamento na "Barata Ribeiro",ir à praia era um "pulinho".
Ele comandava a Bateria dos Rouxinóis, um bloco de rua ,e durante o dia vendia bijuterias na orla onde ela adquiriu um par de brincos de búzios e contas.

Os dois conversaram sobre o tempo que se fizera radiante , sobre o desfile que aconteceria naquela noite , sobre as belezas da cidade ,e muito mais teriam conversado se não tivesse acontecido o arrastão que espantou os banhistas.

À noite , espremida no meio da multidão que cantava junto com os sambistas,ela espantou-se ao notar que o destaque, do alto do carro alegórico, lhe acenava e jogava beijos.Apertou os olhos , buscou na memória e reconheceu: era o belo mulato que lhe vendera os brincos e roubara a serenidade, sim porque seu sorriso aberto voltara-lhe repetidas vezes à lembrança.
Dirigiu-se rapidamente à dispersão e recebeu-o sem melindres com um prolongado beijo.Foi o início de um ardoroso caso de amor onde a paixão misturou-se ao sabor salgado das águas do mar e ao frenesi das batucadas noturnas quando seus corpos ondulavam e vibravam no passo marcado do prazer.
Decidiram que ela não voltaria ao sul, mas permaneceria bronzeada e linda ao lado do príncipe etíope que o carnaval fizera desembarcar em seus braços.

No entanto ela voltou...

Aquele foi um ano atípico no Rio de Janeiro.Fez frio , não permitindo que os corpos continuassem colorindo ao sol. E quando ela perdeu o bronze , ele perdeu a tesão; afinal ele sempre desprezara as "galegas".

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

(continuação)



...Mas, ficaria bem ir a um baile de carnaval depois de velha e ainda por cima deixada do marido?...Talvez fosse melhor esperar pelo baile do Dia das Mães..Não!...Iria com o filho.Que bobagem!Teria orgulho de entrar com ele no salão de um clube. Coisa mais chique!

Pensando na vida de agora, Candinha ainda se sentia intimidada com o que pudessem comentar quando a vissem no baile, mas estava pronta para mais esta batalha contra o preconceito.



Naquele dia foi assaltada diversas vezes pela lembrança dos pais.Ele, ranzinza, mas muito trabalhador e reconhecido por sua honestidade ;a mãe que só saia de casa para a missa de domingo, carregando uma filha em cada mão , obediente às vontades do marido ao qual nunca vira nu porque só se deitavam com a luz apagada(isso ela havia contado à Candinha num dos sermões ouvido por ocasião da separação).E a mana Rosinha , morta tão cedo por uma meningite!
Foi um verdadeiro carnaval de memórias e emoções aquele dia.Dormiu após ter entregue Heitor à Virgem Santíssima ,como sempre fazia.
Acordou cedinho na manhã seguinte para preparar um gostoso café-com-leite para o filho e encontrou-o sentado à mesa com um embrulho nas mãos.
_Mamãe,olhe o que trouxe para nós !E desembrulhou dois cortes de cetim branco e outros coloridos.
-Nossa fantasia de carnaval.A Senhora se anima a fazer?Com calma porque falta quase um mês...
_Fantasia de quê?
_De colombina para a Senhora e de pierrô para mim.
_Eu? de colombina? o que vão falar?...
_Que você , enfim está tendo todo o tratamento que sempre mereceu.Recebendo a recompensa por ser mãe dedicada e mulher exemplar. E eu serei seu galante companheiro.
Ela teve ímpetos de dizer que não podia,mas pegou os tecidos e falou:

_Vou enfeitar com lantejoulas coloridas os lozangos da minha saia.

Fim

domingo, 28 de outubro de 2007

continuação

_ E quando será isso?Perguntou.
-No carnaval ,mamãe.Quero que a senhora assista um baile de carnaval, sei que é um antigo desejo seu.
_Verdade, filho.Quantas vezes desejei usar uma daquelas fantasias que confeccionava para as freguesas!Lembro até de ter experimentado uma colombina da filha da Dona Nita e ter sonhado depois que um pierrô me levava pela mão.
_Então está decidido.Iremos ao carnaval para inaugurarmos nosso status de novos sócios!Agora vou ao trabalho, que é hora de entregar as encomendas. Até!
Heitor saiu em passos rápidos e a velha mãe retomou suas recordações.Passara 15 anos de sua vida ouvindo a mesma cantilena do pai: mulher deixada do marido não é boa coisa!Mas agüentara firme e hoje tinha sua casinha e um filho que era uma preciosidade, menino estudioso ,jovem respeitador e dedicado ao trabalho.Viviam sem muitas posses ,é verdade, mas ela já podia dar-se ao luxo de cuidar apenas da casa, deixando as noitadas de costura desde que lhe aparecera aquela "dor na coluna" e Heitor a proibira de ficar pedalando dia e noite.Afinal ele estava trabalhando bem na alfaiataria do Seu Manoel.
continua

FANTASIA DE COLOMBINA

Estava concluída a nova pintura da sala de costura e Heitor olhava feliz o resultado do seu trabalho.A tinta verde que sobrara das reformas de fim de ano realizadas na casa de Seu Antenor viera a calhar , já que andava, há tempos querendo tornar mais bonita a casa de sua velha mãe.
E aquela sala de costura ,onde ela costumava, aínda hoje, sentar-se à tarde , merecia "roupa nova",afinal, fora dali que a boa Candinha tirara o sustento e a educação para ele.Mulher batalhadora aquela!
Agora ele precisava trocar a madeira da porta porque uma fresta de largura regular deixava passar uma réstia de luz que incidia exatamente sobre a máquina Singer.Mas a madeira andava pelos olhos da cara e, pensando bem, a faixa de luz dourada refletida na parede verde dava um ar de pintura abstrata. Uma réstia assim nunca passaria desapercebida!Enquanto não adquirisse a madeira faria de conta que aquilo era sua obra de arte.
_Filho?Onde você está?
_ Na costura,mamãe.Era assim que se referiam àquele ambiente.
_Qual a novidade que você ia me contar?
_Sente-se mamãe.Acho que você vai adorar.Eu fui aceito como sócio do Clube Caixeral e meu primeiro baile será para levá-la.
_Filho! Você venceu! agora será de sociedade.
Num átimo passava pelas lembranças de Candinha toda a luta para criar aquele guri: costura até altas horas ,dívidas permanentes ,solidão, dependência da vontade do velho pai que a recebera em casa após sua separação de Fortunato ( o infeliz nunca mais procurara o filho).Quantas vezes ouvira o pai recriminá-la por ter sido abandonada, dizendo que era uma desgraça ter uma filha deixada do marido, que ela devia envergonhar-se, que as pessoas já o olhavam de maneira diferente por ter uma filha assim...
(continua)
VERDADES BAILARINAS

O preconceito e a magia são verdades bailarinas.
Também o são nossos traços interiores, nossas feridas emocionais.
Estão sempre rodopiando `a nossa volta e, muitas vezes, fingimos não vê-las. Simplesmente ignoramos, rotulando sob conceitos outros ou impedidos de ver pela cegueira da nossa vaidade.
Elas continuam ali, bailando , imunes à nossa dissimulação.
E as atitudes que tomamos influenciados por elas irão direcionando nosso destino, que poderá ser escurecido pelo preconceito ,perturbado por nossas emoções ou iluminado pela magia.
E o impressionante é que em nossas decisões nunca haverá o absoluto porque "a verdade não tem um ponto final ;tem ponto de vista"