domingo, 28 de outubro de 2007

FANTASIA DE COLOMBINA

Estava concluída a nova pintura da sala de costura e Heitor olhava feliz o resultado do seu trabalho.A tinta verde que sobrara das reformas de fim de ano realizadas na casa de Seu Antenor viera a calhar , já que andava, há tempos querendo tornar mais bonita a casa de sua velha mãe.
E aquela sala de costura ,onde ela costumava, aínda hoje, sentar-se à tarde , merecia "roupa nova",afinal, fora dali que a boa Candinha tirara o sustento e a educação para ele.Mulher batalhadora aquela!
Agora ele precisava trocar a madeira da porta porque uma fresta de largura regular deixava passar uma réstia de luz que incidia exatamente sobre a máquina Singer.Mas a madeira andava pelos olhos da cara e, pensando bem, a faixa de luz dourada refletida na parede verde dava um ar de pintura abstrata. Uma réstia assim nunca passaria desapercebida!Enquanto não adquirisse a madeira faria de conta que aquilo era sua obra de arte.
_Filho?Onde você está?
_ Na costura,mamãe.Era assim que se referiam àquele ambiente.
_Qual a novidade que você ia me contar?
_Sente-se mamãe.Acho que você vai adorar.Eu fui aceito como sócio do Clube Caixeral e meu primeiro baile será para levá-la.
_Filho! Você venceu! agora será de sociedade.
Num átimo passava pelas lembranças de Candinha toda a luta para criar aquele guri: costura até altas horas ,dívidas permanentes ,solidão, dependência da vontade do velho pai que a recebera em casa após sua separação de Fortunato ( o infeliz nunca mais procurara o filho).Quantas vezes ouvira o pai recriminá-la por ter sido abandonada, dizendo que era uma desgraça ter uma filha deixada do marido, que ela devia envergonhar-se, que as pessoas já o olhavam de maneira diferente por ter uma filha assim...
(continua)

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