terça-feira, 30 de outubro de 2007

INCOMPATIBILIDADE

Ela chegara do Nordeste bronzeadíssima e pronta para curtir o carnaval.Além disso, nunca estivera no Rio de Janeiro e ,tendo alugado um pequeno apartamento na "Barata Ribeiro",ir à praia era um "pulinho".
Ele comandava a Bateria dos Rouxinóis, um bloco de rua ,e durante o dia vendia bijuterias na orla onde ela adquiriu um par de brincos de búzios e contas.

Os dois conversaram sobre o tempo que se fizera radiante , sobre o desfile que aconteceria naquela noite , sobre as belezas da cidade ,e muito mais teriam conversado se não tivesse acontecido o arrastão que espantou os banhistas.

À noite , espremida no meio da multidão que cantava junto com os sambistas,ela espantou-se ao notar que o destaque, do alto do carro alegórico, lhe acenava e jogava beijos.Apertou os olhos , buscou na memória e reconheceu: era o belo mulato que lhe vendera os brincos e roubara a serenidade, sim porque seu sorriso aberto voltara-lhe repetidas vezes à lembrança.
Dirigiu-se rapidamente à dispersão e recebeu-o sem melindres com um prolongado beijo.Foi o início de um ardoroso caso de amor onde a paixão misturou-se ao sabor salgado das águas do mar e ao frenesi das batucadas noturnas quando seus corpos ondulavam e vibravam no passo marcado do prazer.
Decidiram que ela não voltaria ao sul, mas permaneceria bronzeada e linda ao lado do príncipe etíope que o carnaval fizera desembarcar em seus braços.

No entanto ela voltou...

Aquele foi um ano atípico no Rio de Janeiro.Fez frio , não permitindo que os corpos continuassem colorindo ao sol. E quando ela perdeu o bronze , ele perdeu a tesão; afinal ele sempre desprezara as "galegas".

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